Pix: A Oportunidade Histórica do Brasil
Mais do que um avanço tecnológico, o Pix coloca o Brasil na vanguarda global da inovação financeira, consolidando-se como um dos pilares da economia digital.
Stéfano Ribeiro Ferri, sócio fundador do Stéfano Ferri Advocacia. (Foto: Divulgação)
Nos grandes centros urbanos, é comum encontrar vendedores ambulantes disputando a atenção dos transeuntes em meio ao barulho intenso dos veículos. Muitos exibem o aviso: “Aceito Pix”. A cena revela algo maior: o Pix não é apenas um meio de pagamento — é uma ferramenta de inclusão, modernização e autonomia.
Dados disponibilizados pelo Banco Central mostram que a ferramenta já conta com mais de 160 milhões de usuários cadastrados. Levantamento do Instituto Locomotiva aponta que ela foi responsável pela inclusão de mais de 35 milhões de pessoas no sistema financeiro — indivíduos que, até então, sequer possuíam conta bancária. Trata-se de uma transformação estrutural.
Mais do que um avanço tecnológico, o Pix coloca o Brasil na vanguarda global da inovação financeira, consolidando-se como um dos pilares da economia digital. O sistema desenvolvido pelo Banco Central é referência internacional. Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, afirmou recentemente que o país pode ter “inventado o futuro do dinheiro”.
O impacto extrapolou as fronteiras do setor financeiro, gerando efeitos diplomáticos e comerciais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a anunciar a abertura de investigação comercial contra o Brasil. No mesmo documento em que comunicou o polêmico “tarifaço”, mencionou supostas irregularidades na adoção do mecanismo de pagamentos, tratando-o como “prática desleal”.
Assim como a corrida pela liderança da Inteligência Artificial redefine a geopolítica mundial, a inovação tecnológica tornou-se mais que diferencial competitivo: é questão de soberania. O Pix, além de inovação disruptiva, é instrumento de autonomia tecnológica com potencial para exportar know-how e influenciar o rumo da economia digital.
Yanis Varoufakis, ex-ministro da Economia da Grécia, em “Tecnofeudalismo: O que Matou o Capitalismo”, descreve como plataformas digitais substituíram mercados tradicionais e passaram a exercer poder similar ao dos antigos feudos da Idade Média. Nesse cenário, compreender a inquietação de potências estrangeiras diante de um sistema de pagamentos público, acessível e independente torna-se mais fácil. Para muitos, é inusitado que um país em desenvolvimento crie uma solução tecnológica não subordinada aos grandes conglomerados.
Se souber aproveitar as oportunidades, o Brasil poderá se tornar um ator central na economia global do século XXI. Mais do que criar um método de pagamento, desenvolvemos um símbolo de autonomia tecnológica que escapa ao controle de plataformas privadas e governos estrangeiros.
O desafio é não desperdiçar essa vantagem. É preciso investir em infraestrutura, segurança e integração tecnológica para que o Pix se consolide não apenas como sucesso interno, mas como um case de exportação de tecnologia. Num mundo em que a tecnologia redesenha as fronteiras do poder, o Brasil tem a oportunidade rara de deixar de ser espectador — e assumir o papel de protagonista.
Fonte: Stéfano Ribeiro Ferri, fundador do Stéfano Ferri Advocacia, especialista em direito do consumidor e saúde, assessor da 6ª Turma do Tribunal de Ética da OAB/SP e membro da Comissão de Direito Civil da OAB – Campinas.