Big Techs, brechas e o futuro sustentável do setor financeiro
As big techs já não são apenas fornecedoras de infraestrutura digital — são agentes ativos na transformação dos mercados.
Eduardo Gouvêa, fundador e presidente do Conselho Deliberativo da Droom Investimentos. (Foto: Divulgação)
É impossível falar sobre o futuro do setor financeiro sem reconhecer que, entre os influenciadores do avanço deste mercado, não estão mais apenas os grandes bancos e os órgãos reguladores, como acontecia tradicionalmente. Agora, tão ou mais importante do que eles são as grandes empresas de tecnologia. As big techs já não são apenas fornecedoras de infraestrutura digital — são agentes ativos na transformação dos mercados. E, embora muitos enxerguem isso como uma ameaça, prefiro ver como um campo fértil de possibilidades.
O setor financeiro nunca foi espaço para amadores. De um lado, enfrenta uma regulação intensa, complexa e, por vezes, lenta. De outro, convive com a força bruta dos grandes bancos e gestoras que há décadas consolidaram seu espaço. Agora, com a necessidade de acompanhar e superar as inovações tecnológicas, o desafio só se torna ainda mais relevante.
Essa confluência cria, sem dúvida, uma pressão enorme para quem deseja inovar. Mas é justamente nesse ambiente que os empreendedores mais criativos conseguem encontrar o espaço.
Inteligência Artificial, big data, automação de processos, modelos preditivos — todas essas ferramentas estão disponíveis hoje, em grande parte, graças aos investimentos dessas gigantes. E aqui mora uma verdade que precisa ser dita: reclamar da concentração de poder na mão desses players é fácil. Difícil é estudar o sistema a fundo, entender as regras do jogo e identificar as brechas para inovar.
Esta é a minha missão diária. Gosto de provocar todo o time a descobrir como podemos utilizar tecnologia de ponta para transformar um mercado tradicional e pouco acessível — o de ativos judiciais — em uma plataforma dinâmica, transparente e acessível. O caminho é aprender a conectar pontos que nem sempre parecem conversar de forma óbvia: legislação, infraestrutura, dados e pessoas.
Além disso, acredito no papel dos empreendedores como forças descentralizadoras. Quando usamos a tecnologia das big techs para construir modelos mais eficientes, mais inclusivos e mais sustentáveis, estamos, de fato, gerando valor onde antes havia concentração. É como se nos infiltrássemos no sistema para usar aquilo que já foi desenvolvido como base para inovações ainda mais profundas, fortalecidas pelo entendimento do mercado que só o empreendedor que respira os desafios de um determinado setor consegue ter.
Afinal, a tecnologia em si não é nem boa nem ruim — tudo depende de como é utilizada. Quando colocamos essas ferramentas nas mãos certas, elas deixam de ser barreiras e se tornam pontes.
Não acredito em um setor financeiro 100% disruptivo, nem 100% tradicional. Acredito em um futuro híbrido, onde o conhecimento jurídico, a regulação, a inovação tecnológica e o espírito empreendedor caminham juntos, como pontos fundamentais para a criação de soluções que unam a flexibilidade e a segurança que os clientes esperam. Sem a instabilidade que a disrupção total provocaria, nem a desconexão com o público presente nos produtos de prateleira dos gigantes.
É nesse cenário que surgirão as novas soluções: com startups colaborando com grandes instituições, com fintechs desafiando as estruturas estabelecidas e com plataformas independentes aproveitando a tecnologia disponível para democratizar o acesso a investimentos e serviços.
O caminho para a sustentabilidade do setor financeiro passa, sim, pelas big techs, mas não de forma passiva. Passa pelo uso estratégico de seus recursos, pela inteligência dos empreendedores e pela capacidade de transformar pressões em oportunidades.