Brasil e Índia: parceria entre as duas maiores democracias do Sul Global busca diversificar o comércio e atrair investimentos
Entre as mais de 380 oportunidades comerciais identificadas, ganham relevância os setores de combustíveis, celulose e máquinas e equipamentos.
Marco Stefanini, fundador e CEO global do Grupo Stefanini. (Foto: Divulgação)
A Índia é uma das economias que mais crescem no mundo e tem se consolidado como parceiro prioritário do Brasil. Segundo levantamento da ApexBrasil, as exportações brasileiras para a Índia aumentaram em média 13,7% ao ano desde 2019, totalizando US$ 5,3 bilhões em 2024. Os destaques da pauta incluem açúcar, petróleo, óleos vegetais, algodão bruto e aviões.
Entre as mais de 380 oportunidades comerciais identificadas, ganham relevância os setores de combustíveis, celulose e máquinas e equipamentos. O grupo “Sementes oleaginosas de girassol, gergelim, canola, algodão e outras” registrou um crescimento médio de 1.414,9% entre 2019 e 2024, impulsionado pela abertura do mercado indiano para o gergelim brasileiro.
Oportunidades
Em meio a 17ª Cúpula do Brics, no Fórum Econômico Brasil-Índia, realizado no início de julho, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou o potencial inexplorado da relação bilateral. Ele afirmou que “o Brasil se tornou um dos principais destinos globais para investimentos estrangeiros” e avaliou que, no caso da Índia, “não teremos outra oportunidade tão grande como esta”, dada a afinidade entre os dois países e o baixo volume atual de comércio bilateral, ainda “concentrado em poucos produtos”.
Já o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da conferência climática que será realizada em Belém, reforçou a vantagem competitiva do Brasil por sua matriz energética historicamente limpa e diversificada, com hidrelétricas, biocombustíveis, energia eólica e solar, e elogiou os avanços da Índia na transição para fontes renováveis.
“A Índia tem acelerado a sua produção de energia eólica e de energia solar de maneira impressionante”, afirmou.
Investimentos
A Índia foi o sexto maior investidor asiático no Brasil em 2023, com estoque de US$ 2,9 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED). Os anos de 2022 e 2023 marcaram os maiores volumes de aportes indianos no país, em setores como energia, farmacêutico e tecnologia. Os dados estão no estudo Perfil de Comércio e Investimentos Índia, realizado pela ApexBrasil e publicado em junho deste ano. O país foi apenas o 28º no ranking de investimentos estrangeiros no Brasil. No mesmo ano, o estoque de investimentos brasileiros na Índia somou apenas US$ 41,21 milhões, em 63º no ranking.
Como a Índia presidirá o Brics no próximo ano, o Fórum Econômico Brasil-Índia identificou 385 oportunidades para produtos brasileiros no mercado indiano nos seguintes setores: combustíveis minerais, máquinas e equipamentos de transporte, artigos manufaturados, produtos químicos, e óleos animais e vegetais. O presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou que as economias brasileira e indiana se complementam.
“Temos muitas demandas em comum com relação à cana-de-açúcar, ao açúcar e ao etanol. Podemos, juntos, ser protagonistas no fornecimento de combustível sustentável de aviação para o mundo. Eu entendo que, na evolução das relações bilaterais ou multilaterais, quem vai sair na frente é quem busca a complementariedade e não a competição entre si”, declarou.
Entre as grandes empresas indianas presentes no país, a Aditya Birla Group se destaca por manter operações relevantes no Brasil, atuando em vários setores com forte presença industrial e comercial. Através da Novelis, o grupo tem a maior usina de laminação e reciclagem de alumínio da América do Sul, localizada em Pindamonhangaba, SP, com expansão recente. Há também uma fábrica em Santo André que produz lâminas de alumínio para setores automotivo, farmacêutico, elétrico e doméstico — 80% do volume é comercializado internamente e 20%, exportado
Conquistas importantes
A Taurus acaba de conquistar, por meio da joint venture com o grupo Jindal Defence Systems Pvt Limited, uma licitação para o fornecimento de pistolas calibre 9 mm destinadas a um órgão policial da Índia, consolidando ainda mais sua entrada no mercado institucional no país.
De acordo com o CEO Global da Taurus, Salesio Nuhs, o mercado indiano oferece um potencial expressivo no segmento militar, de segurança pública e civil. A empresa enxerga a Índia como uma oportunidade estratégica, com perspectivas promissoras a médio e longo prazo.
Novos ares
Já a Embraer anunciou em maio um reforço significativo de seu compromisso com a Índia, por meio do estabelecimento de uma subsidiária no país que terá como sede um escritório corporativo em AeroCity, Nova Delhi. Essa decisão estratégica ressalta a visão de longo prazo da Embraer para o crescimento e a potencial colaboração com o cenário aeroespacial e de defesa da Índia, que está em rápida evolução.
A criação de subsidiária na Índia pretende fortalecer suas frentes de atuação em defesa, aviação comercial, executiva, serviços & suporte e no crescente setor de mobilidade aérea urbana.
“A Índia é um mercado-chave para a Embraer, e essa expansão demonstra nosso compromisso com o país”, disse Francisco Gomes Neto, Presidente e CEO da Embraer. “Vislumbramos oportunidades significativas em defesa, aviação comercial, executiva, serviços & suporte e no emergente setor de mobilidade aérea urbana”.
Ponto de vista
Qual a importância e relação do Grupo Stefanini com a Índia e o mercado asiático?
Marco Stefanini, fundador e CEO global do Grupo Stefanini
A Índia é um dos mercados de tecnologia que mais crescem no mundo, com um foco crescente em tecnologia digital, IA e inovação. Tanto o Brasil quanto a Índia estão investindo em inteligência artificial dentro de suas estratégias de desenvolvimento tecnológico. Isso abre espaço para investimentos mútuos, formação de consórcios, desenvolvimento de pesquisa e de novos projetos de IA. O Grupo Stefanini está presente no país desde 2006, quando escolheu a cidade de Hyderabad para instalar seu escritório, uma das regiões com maior capacidade tecnológica da Índia. A presença no país – atualmente em Hyderabad, Pune and Noida - nos permite ampliar a oferta de serviços para contratos globais, tendo como alvo os mercados americanos e asiático. Entre os principais clientes atendidos pela nossa operação na Índia estão empresas dos segmentos de varejo, finanças e indústria de produtos químicos.
Durante a última década, investimos mais de US$ 232 milhões em despesas operacionais e outros US$ 4 milhões em construção de instalações e infraestrutura de TIC, ampliando o número de colaboradores de 41 colaboradores para 1300 – o que reforça a importância da Índia em nosso plano de crescimento global. Atualmente, o Grupo Stefanini está presente em 41 países e conta com mais de 38 mil colaboradores. Estamos comprometidos em fortalecer nossa presença na Índia para melhor atender nossos clientes em sua jornada de transformação digital. Acreditamos no potencial do mercado asiático e continuaremos investimento no continente para expandir nossas ofertas AI-First reunidas em sete unidades de negócios: Technology, Cyber, Data & Analytics, Financial Tech, Operations, Marketing e Manufacturing.
Somos uma empresa de IA aplicada com mais de 250 de casos de uso ao redor do mundo. Nossa atuação AI-First é resultado da história de experimentação, implementação e execução da tecnologia. Estamos à frente na oferta de soluções avançadas que permitem ao mundo corporativo adotar mais facilmente a inteligência artificial em áreas estratégicas. Esse é posicionamento que levamos para o mundo inteiro. Mais do que uma ferramenta tecnológica, a IA atua como agente de transformação cultural e estrutural para nossos clientes.