Suplemento de lítio pode ser a nova arma na luta contra o Alzheimer

Estudo de Harvard, que analisou tecidos cerebrais humanos e realizou experimento em camundongos, sugere que baixos níveis do metal contribuem para o declínio cognitivo.

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Estudo revela que queda de lítio no cérbro apresenta sinais de perda de memória e marcas típicas do Alzheimer. (Foto: Unsplash)

O estudo conduzido por um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, mostra que análises de tecido cerebral humano e testes com camundongos revelaram um padrão: quando os níveis de lítio no cérebro caem, aparecem sinais de perda de memória e marcas típicas do Alzheimer, como as placas amiloides e os emaranhados de tau. A pesquisa também trouxe indícios, em experimentos com animais, de que um tipo específico de suplemento de lítio consegue reverter essas alterações, recuperar a memória e devolver ao cérebro um funcionamento mais jovem e saudável.

O professor Orestes Vicente Forlenza, titular do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador em Psiquiatria Geriátrica e Neurociências, explica: “O lítio é considerado um medicamento que trata algumas doenças mentais e transtornos neuropsiquiátricos, e mais recentemente ele foi colocado como um possível agente neuroprotetor e capaz de modificar alguns processos ligados a certas doenças neurodegenerativas, incluindo a doença de Alzheimer.

Lítio na água 

Forlenza explica que o lítio cumpre diferentes funções no cérebro: “Há alguns anos, estudos epidemiológicos feitos em países da Europa, como a Dinamarca, e também na América do Norte mostraram que a concentração de lítio na água do lençol freático é inversamente associada com a ocorrência de doença de Alzheimer. Ou seja, quanto mais alto o teor de lítio na água do lençol freático, menor a doença de Alzheimer”.

Segundo o professor, os estudos que relacionam o nível de Alzheimer com o lítio na água se alinham com o estudo recente sobre a eficiência do lítio na luta contra a doença. “Isso é bastante coerente com o modelo que ele utilizou, utilizando tanto a amostra de tecido cerebral post-mortem, a amostra de plasma desses mesmos indivíduos, mostrando que há uma depressão de lítio nos cérebros daqueles indivíduos que já têm os marcadores patológicos da doença de Alzheimer”, completa

Quando usado como forma de tratamento, os níveis de lítio se encontram numa dosagem muito maior do que nos cérebros analisados no estudo publicado na Nature. O que o estudo propõe, é que há um nível que, embora seja baixo, é necessário para o bom funcionamento do cérebro.

Marcadores patológicos

Os principais marcadores patológicos da doença de Alzheimer são as placas amiloides e emaranhados neurofibrilares. No estudo, a análise laboratorial comprova que com a remoção do lítio da dieta dos camundongos houve um aceleramento no desenvolvimento dessas placas e emaranhados.

O professor ainda salienta achados clínicos mostrando que entre pessoas que envelheceram com algum tipo de transtorno mental e fizeram o uso do lítio houve menos casos de Alzheimer e uma maior sobrevida cognitiva: “Essas são demonstrações que nós fizemos há mais de 15 anos, no estudo do tratamento de bipolares aqui do nosso grupo, e reproduzimos agora recentemente numa casuística internacional de bipolares idosos, com mais de 3.500 participantes, mostrando esse benefício do uso crônico do lítio em relação a certos desfechos tanto funcionais como clínicos”.

O remédio do futuro?

A comprovação de que níveis baixos de lítio possam ter efeitos biológicos protetores aumenta a segurança para o seu uso numa escala maior, já que o risco de toxicidade da medicação não é nulo. Forlenza explica que o estudo traz uma atenção maior para a funcionalidade do lítio, destacando os benefícios e trazendo maior relevância para possíveis tratamentos do Alzheimer com o uso desse remédio.

“Isso mostra realmente um potencial incrível de uma droga barata que pode ser disponibilizada em larga escala e nos níveis dosagens menores, com efeitos biológicos comprovados, a segurança é muito maior. A gente tem todos aqueles elementos para realmente posicionar o lítio como um composto com um grande potencial terapêutico e protetor, não só contra a doença de Alzheimer, mas outras doenças degenerativas, como doença de Parkinson. Alguns estudos mostram benefícios até na recuperação pós-AVC, sem contar, evidentemente, nas doenças psiquiátricas.”