Internet Society promete conectar 100 comunidades latino-americanas até 2030
Meta busca reduzir desigualdade digital que ainda afeta milhões em áreas rurais e indígenas da região.
Sally Wentworth, presidente e diretora-executiva da organização. (Foto: Divulgação)
A Internet Society, organização global sem fins lucrativos dedicada à promoção de uma Internet aberta e acessível, anunciou que pretende conectar 100 comunidades na América Latina até 2030. A iniciativa será realizada em parceria com a Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL) e busca enfrentar um desafio persistente: quase 40% da população rural da região ainda está desconectada, com acesso limitado a serviços básicos de educação, saúde e desenvolvimento econômico.
Os altos custos de infraestrutura e a geografia acidentada tornaram inviável levar serviços tradicionais de Internet a muitas localidades, especialmente em áreas indígenas. Para reverter esse quadro, a Internet Society aposta em redes comunitárias: iniciativas criadas e mantidas pelas próprias populações locais, com apoio técnico e regulatório.
“As comunidades conhecem melhor do que ninguém suas necessidades de conectividade”, afirmou Sally Wentworth, presidente e diretora-executiva da organização. “Nosso papel é fornecer capacitação técnica, apoio em políticas públicas e modelos comprovados que permitem aos líderes locais construir e manter suas próprias redes.”
Um exemplo vem do Chaco, no Paraguai, onde a Internet Society, em parceria com o Grupo Sunu e comunidades indígenas, implantou redes sem fio adaptadas a condições climáticas extremas. Hoje, escolas, centros de saúde e espaços comunitários já estão conectados, enquanto moradores locais recebem treinamento para gerir a infraestrutura, reduzindo custos e garantindo sustentabilidade.
A parceria com a CITEL também mira mudanças regulatórias que facilitem a expansão das redes comunitárias. Além de capacitar lideranças locais, a estratégia inclui o diálogo com formuladores de políticas públicas para remover barreiras legais e criar incentivos à infraestrutura de base comunitária. No Brasil, a organização atua junto ao Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS) na formulação de uma Estratégia Nacional de Conectividade Centrada em Comunidades. O trabalho reuniu entrevistas com especialistas, análise de mais de 700 páginas de documentos e encontros com um comitê consultivo formado por representantes de diferentes setores.
A capacitação é um dos pilares do projeto. Em agosto, a Internet Society promoveu um workshop em Santiago, no Chile, reunindo 75 líderes locais para oficinas sobre design de redes, instalação de equipamentos e navegação no ambiente regulatório. Além disso, 21 bolsistas de diferentes países receberam treinamento em governança da Internet e advocacy. Para 2025, a previsão é conceder 400 bolsas para cursos online especializados, ampliando o alcance da formação técnica.
A aposta da Internet Society é que, ao transferir conhecimento e autonomia às próprias comunidades, seja possível construir um futuro digital mais inclusivo e resiliente.
“A inclusão digital não se trata apenas de acesso, mas de empoderamento”, destacou Wentworth. “Quando as comunidades são donas e operadoras de suas redes, controlam seu futuro digital e criam oportunidades econômicas sustentáveis.”