Com adoção em massa, Brasil se consolida entre os maiores usuários de GPT no mundo dos negócios
A popularização do ChatGPT no país revela potencial para inovação, produtividade e novos modelos de negócio.
Gabriel Valentim, cofundador da Nero.AI. (Foto: Divulgação)
Quando a OpenAI divulgou que o Brasil já é o terceiro país do mundo em número de usuários do ChatGPT, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, eu não me surpreendi. Os números impressionam: são cerca de 140 milhões de mensagens por dia, mas quem vive a rotina de empreender em tecnologia no Brasil já sente isso na pele: o GPT virou parte da vida de milhões de brasileiros.
É curioso observar como essa adoção tão rápida aconteceu. Por um lado, o ChatGPT é uma tecnologia que chegou sem barreiras. Não era preciso comprar um computador caro, instalar programas complicados ou ter formação técnica. Bastava abrir no celular e começar a usar. Por outro lado, existe o perfil do jovem brasileiro, conectado, curioso e inquieto. A maioria dos usuários está entre 18 e 34 anos, uma faixa etária que tem sede de aprender e de se expressar melhor. Para essa geração, o GPT virou um aliado: corrige textos, ajuda nos estudos, organiza ideias.
Mas há também um terceiro aspecto, talvez o mais brasileiro de todos: nossa carência de ferramentas tradicionais. Muitos jovens do interior, como eu já fui, sabem o que é estudar sem material didático, sem professores preparados, sem estrutura. Quando aparece uma tecnologia que oferece respostas, que ajuda a aprender ou a comunicar melhor, ela não é apenas uma novidade, ela é quase uma necessidade. O GPT preenche lacunas que carregamos há décadas.
Entre ganhos de produtividade e os riscos de dependência
O impacto disso já é visível. Vejo estudantes que conseguem avançar mais rápido, profissionais que ganham horas de produtividade e empreendedores que constroem negócios inteiros apoiados na inteligência artificial. Na Nero.AI, acompanhamos de perto esse movimento. Alguns clientes começaram a usar Inteligência Artificial de forma tímida, para pequenas tarefas. Hoje, redesenham processos inteiros, criam novos serviços e transformam setores como educação, saúde e jurídico.
Claro que há desafios. Ainda somos muito dependentes de tecnologias estrangeiras, e isso traz riscos para nossa autonomia. A desigualdade de acesso também é gritante, enquanto alguns jovens usam GPT para acelerar seus estudos, outros ainda não têm internet de qualidade em muitas regiões do país, 1.200 municípios brasileiros ainda não têm fibra óptica.
Mesmo assim, vejo esse momento como uma janela única para o Brasil. Podemos escolher ser apenas consumidores da tecnologia ou dar um passo além e nos tornarmos protagonistas. Temos talento, criatividade e resiliência para desenvolver soluções próprias, adaptadas à nossa realidade. Mas para isso precisamos investir em educação técnica, incentivar o empreendedorismo e criar infraestrutura que nos permita escalar.
Se fizermos esse movimento, o boom de hoje será o ponto de virada em que o Brasil deixou de olhar a tecnologia de fora e passou a ditar tendências. Quem sabe. Como empreendedor do setor, vejo meu papel como parte disso, quero contribuir para que a inteligência artificial não seja apenas uma curiosidade para os brasileiros, principalmente os mais jovens, mas uma ferramenta concreta para transformar futuros.