'A inteligência artificial não vai roubar seu emprego, mas quem souber usá-la vai', afirma Rodrigo Cury, da Visa no Brasil

Executivo fala sobre a transformação do mercado de pagamentos, o impacto do Pix, o futuro dos cartões e a aposta da empresa em inteligência artificial.

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Rodrigo Cury, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Visa no Brasil fala sobre o cenário positivo do mercado de pagamento. (Foto: Divulgação)

O mercado de pagamentos no Brasil passa por uma revolução silenciosa. Mesmo com a popularização do Pix e a queda drástica no uso do dinheiro em espécie, os cartões de crédito continuam crescendo a taxas de dois dígitos ao ano. Rodrigo Cury, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Visa no Brasil, destaca que o segredo dessa resistência está na combinação de segurança, crédito, parcelamento e programas de fidelidade – fatores que o Pix ainda não entrega. Com 25 anos de experiência no setor financeiro, Cury explica que o Brasil é um dos mercados mais sofisticados do mundo quando o assunto é pagamento eletrônico, com soluções que nasceram aqui, como o parcelamento sem juros.

Mais do que uma bandeira de cartões, a Visa quer ser reconhecida como uma empresa global de tecnologia. Com presença em 200 países, quase 5 bilhões de cartões em uso e investimentos que somam mais de US$ 3 bilhões apenas nos últimos três anos em tecnologia e segurança, a companhia aposta na inteligência artificial para liderar a próxima fase da transformação digital. "A inteligência artificial não vai roubar o seu emprego, mas uma pessoa que faz uso dela irá", afirma Cury. Entre as inovações, ele destaca o uso de IA para prevenção de fraudes, soluções de pagamento em tempo real e novos serviços como o Click to Pay e investimentos em mobilidade urbana, como o pagamento de metrô com cartão em tempo real.

O cartão de crédito ainda tem futuro diante do avanço do Pix?

O cartão de plástico continua muito presente na vida do brasileiro. Mesmo com o avanço das carteiras digitais e do Pix, ele segue crescendo a taxas entre 10% e 15% ao ano. São soluções complementares. O Pix mudou a forma como as pessoas usam o dinheiro, mas o cartão oferece outras vantagens como segurança, crédito, parcelamento e programas de recompensa.

Por que o Brasil tem um mercado de pagamentos tão específico e sofisticado?

Muito por conta da nossa história econômica. O parcelamento sem juros, por exemplo, surgiu como evolução do cheque pré-datado na época da hiperinflação. O brasileiro é criativo e buscou formas de manter o consumo de maneira planejada. Hoje, metade das transações feitas com cartão de crédito no Brasil são parceladas sem juros – algo que praticamente só existe aqui.

A Visa ainda é apenas uma bandeira de cartões?

Não mais. Hoje, somos uma empresa de tecnologia, listada na Bolsa de Nova York como tal. Temos mais de 230 produtos e serviços para nossos parceiros. Atuamos em áreas como prevenção a fraudes (não só de cartões, mas também de contas e transferências), cibersegurança, CRM, marketing, consultoria e, claro, inteligência artificial.

Como a inteligência artificial está mudando o mercado de pagamentos?

A Visa começou a investir em IA há 30 anos, principalmente para prevenção de fraudes. Hoje, estamos na vanguarda, criando soluções de agentes inteligentes que vão personalizar o relacionamento com os clientes. A IA veio para nos ajudar. Como ouvi recentemente de um dos fundadores da Siri: a inteligência artificial não vai roubar o seu emprego, mas alguém que souber usá-la vai.

Quais as novas frentes de investimento da Visa no Brasil?

Estamos muito focados em mobilidade urbana. Um exemplo é o metrô do Rio de Janeiro, onde já é possível pagar a passagem com o próprio cartão bancário, sem a necessidade de um cartão de transporte específico. Também estamos estudando soluções para pedágios e estacionamentos. Um case interessante foi no Shopping Bourbon, em São Paulo, onde o cartão serviu como credencial de entrada e saída no estacionamento.

E sobre pagamentos instantâneos, como a Visa está se adaptando?

O setor de cartões é um dos mais preparados para o real time. Temos soluções como o "Click to Pay", que permite compras online com apenas um clique. E seguimos investindo para tornar as experiências cada vez mais rápidas e seguras.

A Visa tem algum novo produto voltado para o público de altíssima renda?

Sim, acabamos de lançar o Visa Infinite Privilege, destinado a um público super seleto – cerca de 200 mil pessoas no Brasil. Entre os benefícios, estão acesso a lounges VIP e até transporte de helicóptero até o aeroporto de Guarulhos, para quem está em São Paulo.

Com uma presença tão grande no mundo, qual o tamanho da Visa hoje?

Estamos em 200 países e territórios, com quase 5 bilhões de cartões em uso e parcerias com cerca de 15 mil instituições financeiras. Nosso lucro líquido no segundo trimestre de 2025 foi de quase 10 bilhões de dólares. Somos uma das