Primeira CEO mulher da Malwee acelera estratégia ESG e inovação para transformar a indústria da moda
Gabriela Rizzo lidera reposicionamento da marca com foco em circularidade, digitalização, diversidade e novas tecnologias para uma moda de baixo impacto.
Gabriela Rizzo, primeira CEO mulher da Malwee, fala sobre a atuação sustentável da empresa. (Foto: Divulgação)
Em entrevista exclusiva, Gabriela Rizzo fala sobre o novo momento da empresa catarinense, que acelera projetos em circularidade, eficiência e protagonismo tecnológico para transformar a indústria da moda no Brasil
Fundada em 1968 no interior de Santa Catarina, a Malwee vive um dos capítulos mais importantes de sua trajetória. Reconhecida nacionalmente como referência em moda sustentável, a empresa entrou em uma nova fase estratégica sob a liderança de Gabriela Rizzo, a primeira mulher a assumir o comando da marca em 57 anos de história.
“O ESG está em tudo o que fazemos, assim como o nosso compromisso em criar uma moda ética e sustentável”, afirma Gabriela, que assumiu a presidência em um momento de transição e fortalecimento da agenda ESG na indústria têxtil.
A marca catarinense está presente em mais de 20 mil pontos de venda pelo Brasil e faz parte do Grupo Malwee. Foi reconhecida como uma das 20 marcas mais transparentes do mundo pelo Índice de Transparência da Moda Brasil, nos últimos 5 anos, além de ser referência internacional em iniciativas sustentáveis.” O ESG está em tudo o que fazemos, assim como o nosso compromisso em criar uma moda ética e sustentável, que seja boa para as pessoas, para o negócio e para o planeta. Por sermos uma empresa do fio ao consumidor, todas as ações do Grupo Malwee são avaliadas antes de serem executadas com o olhar para o meio ambiente. De onde vem nossa matéria-prima, como evitamos o desperdício e o reuso de tecidos e da água, como usamos cada vez mais energias renováveis, de que tipo de material são feitas nossas embalagens, quais produtos químicos geram menos impacto… são diversos detalhes que estamos atentos para fazermos a nossa parte”, diz a liderança.
Além do reposicionamento estratégico, a Malwee também tem olhado para novos canais e experiências digitais. “O investimento mais recente no digital foi o lançamento do nosso app, desenhado para ter uma navegação simples, rápida e fácil em que reunimos todas as marcas do Grupo com os mesmos serviços do e-commerce”, pontua a executiva. Confira entrevista exclusiva
Quais são os investimentos e ganhos internos e recentes da Malwee dentro do tema ESG no que tange o DEI e a sustentabilidade?
O ESG está em tudo o que fazemos, assim como o nosso compromisso em criar uma moda ética e sustentável, que seja boa para as pessoas, para o negócio e para o planeta. Por sermos uma empresa do fio ao consumidor, todas as ações do Grupo Malwee são avaliadas antes de serem executadas com o olhar para o meio ambiente.
De onde vem nossa matéria-prima, como evitamos o desperdício e o reúso de tecidos e da água, como usamos cada vez mais energias renováveis, de que tipo de material são feitas nossas embalagens, quais produtos químicos geram menos impacto… são diversos detalhes que estamos atentos para fazermos a nossa parte. Nossa proposta é desenvolver uma moda veste como um abraço. Nossa relação com o planeta precisa ser duradoura para que tudo faça sentido.
Em 2025, vamos publicar o décimo primeiro relatório de sustentabilidade. É um documento que reúne os principais avanços e desafios nos aspectos social, ambiental e de governança. Respeitamos e cumprimos com essa prática de transparência como uma demonstração do nosso compromisso. Para a elaboração deste documento, seguimos as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), com identificação nos capítulos ou segmentos. A nossa intenção é proporcionar uma visão mais abrangente sobre a trajetória de mais de cinco décadas do Grupo Malwee na indústria da moda.
Estamos no quarto ano de execução do nosso Plano ESG 2030, nossa estratégia para sermos parte da mudança que o mundo precisa. A solidez desse guia e do nosso negócio tem nos permitido crescer sustentavelmente e, ano a ano, evoluir nas metas traçadas.
Ao falarmos de relatório de sustentabilidade e do Plano ESG 2030, também estamos falando de diversidade e inclusão. Temos metas claras sobre o tema, incluindo nossa cadeia de fornecimento, tão relevante na indústria têxtil (somos signatários da ABVTEX). Um dos nossos destaques é o Programa de Inclusão, criado em 2016.
Em 2024, ele ganhou um nome especial escolhido pelos próprios colaboradores: Malwee Para Todos. Com uma equipe multidisciplinar, promovemos um ambiente de trabalho inclusivo. Todas as nossas vagas são acessíveis a pessoas com deficiência e, todos os anos, nossos colaboradores têm a oportunidade de aprender Libras e participar de aulas de conversação.
Nosso compromisso vai além das contratações. Contamos com o apoio do Comitê de Inclusão e parcerias estratégicas com instituições como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), a Associação de Amigos do Autista (AMA) e a Allcet Educacional, garantindo suporte na adaptação e desenvolvimento de profissionais com deficiência em diferentes áreas da empresa.
Como as ações de ESG impactam no desenvolvimento de novos produtos e no uso de novas tecnologias?
O ESG é transversal em todas as áreas da Malwee e está integrado ao nosso jeito de fazer moda desde a origem. Ele não só orienta nossas decisões — como impulsiona nosso compromisso com a inovação. Afinal, não existe sustentabilidade na moda sem inovação. Por isso, buscamos constantemente soluções tecnológicas e novos processos que nos levem a uma moda com menos impacto e mais propósito. Confira dois exemplos:
Em 2024, revolucionamos o mercado global ao anunciar a primeira camiseta que captura CO2 do ambiente e o elimina na lavagem. Após dois anos de pesquisa e estudos em laboratório, a Malwee, em parceria com a Xinterra, start up de Singapura, desenvolveu a aplicação da tecnologia COzTERRA para o mercado têxtil. A solução possibilita que uma camiseta seja capaz de capturar 12g de CO2 da atmosfera. Isso quer dizer que 25 camisetas capturam a mesma quantidade de gás carbônico que uma árvore adulta após a primeira lavagem. E, funciona de forma bem simples: o tecido captura o CO2, e na lavagem, em contato com sabão em pó ou líquido, o CO2 vira bicarbonato de sódio e é totalmente dissolvido. Durante esse mesmo processo de lavagem, os agentes de captura de CO2 são recarregados e, ao usarem a camiseta novamente, ela seguirá capturando mais CO2 do ambiente.
Outra inovação é o Fio do Futuro. Em 2022, anunciamos o movimento DES.A.FIO com o lançamento do primeiro moletom feito com o fio do futuro, matéria-prima inovadora produzida a partir de roupas usadas que seriam descartadas. Ao longo dos anos ele evoluiu: no ano passado, terceira edição do projeto, a matéria-prima foi composta por 85% de fibras diversas provenientes de roupas usadas desfibradas e 15% de poliéster. Além disso, o mix de produtos expandiu: foram incluídos três novos modelos disponíveis em cores como cinza mescla e preta. A nova coleção inclui conjuntos de calça e jaqueta de moletom unissex, além de vestidos em tamanhos variados para adultos e jovens.
Ainda com o Fio do Futuro, a coleção “Abrace o Futuro” fez parte da exposição “A Chain Of Women”, da London Fashion Week, que pelo segundo ano consecutivo apresentou iniciativas inovadoras e sustentáveis da moda brasileira realizadas por mulheres. As peças incluíram técnicas artesanais de macramê e crochê, produzidas pelas mulheres do coletivo “Elas Fazem Nós”, resultado do programa social “Menos Resíduo, Mais Renda”, do Instituto Malwee, que já direcionou mais de 30 toneladas de resíduos têxteis para a capacitação e geração de renda de mulheres em situação de vulnerabilidade econômica e social.
Ao todo, a iniciativa “fio do futuro” já arrecadou o equivalente a 7,4 toneladas de roupas usadas. Cada peça produzida com este fio emite 44% menos CO2 e consome menos de 33% de água, além de utilizar 45% menos terra, uma vez que não depende exclusivamente de matéria-prima virgem para sua produção.
Quais os investimentos hoje no digital e como estão as operações em lojas físicas e o relacionamento com o varejo de moda? Hoje, a Malwee é uma companhia omnichannel?
O Grupo Malwee é do fio ao consumidor, ou seja, somos indústria e somos varejo. Fabricamos nossos produtos e, também, temos o contato com o consumidor final. Para nós, a presença no varejo nos aproxima do cliente, do mercado, do comportamento de consumo e tendências, trazendo informações valiosas que retroalimentam a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação.
No varejo físico, estamos presentes em 80% dos municípios brasileiros por meio de diferentes formatos de loja. Além disso, estamos presentes e ativos no e-commerce, o que nos permite ampliar ainda mais o nosso alcance e acesso, trabalhando e investindo para integrar a jornada omnichannel.
Hoje, somos uma empresa multichannel em fase de ramp-up das ações omnichannel que buscam nos posicionar onde queremos chegar na nossa estratégia de integração focada no nosso consumidor. O investimento mais recente no digital foi o lançamento do nosso APP, desenhado para ter uma navegação simples, rápida e fácil em que reunimos todas as marcas do Grupo com os mesmos serviços do e-commerce. Ele foi desenhado para facilitar a vida do nosso cliente e deixá-lo mais próximo das nossas marcas. O cliente está sempre no centro das nossas decisões.
Quais os principais desafios para conquistar o público infantil e famílias que buscam cada vez mais um preço competitivo?
O DNA das nossas marcas e linhas de produto é a moda do dia a dia com conforto, qualidade, atualidade e praticidade. O nosso propósito de VESTIR COMO UM ABRAÇO traduz estes atributos por meio do design e acessibilidade. No mercado adulto estamos presentes com as linhas de produto Feminino, Masculino, Active, Íntima e Pijamas nas marcas Malwee e Enfim.
Atendemos o mercado infantil com duas marcas: Malwee Kids, para o dia a dia, com roupa para crescer feliz; e a Carinhoso, roupas para momentos especiais, criando memórias de amor. Estamos sempre atentos às necessidades das crianças e às expectativas dos cuidadores.
O grande desafio é buscar design, inovações e ganhos de eficiência que possam se traduzir em valor para o consumidor final e, consequentemente, a preços competitivos. Como somos uma empresa bastante verticalizada e pioneira, temos esta possibilidade, ainda que a comunicação dos atributos dos produtos e o valor sejam uma grande oportunidade de melhoria.
Importante é sempre estar aberto e testar coisas novas. Um exemplo de inovação em produto foi o lançamento da camiseta Me Encontre, de Malwee Kids. Além de oferecer proteção UV 50+, a camiseta ainda possui um QR Code na barra que permite localizar rapidamente os responsáveis em caso de perda da criança. Basta que ela mostre o QR Code a um adulto e o mesmo terá os dados dos cuidadores para chamá-los imediatamente.
Você é a primeira CEO do grupo que não é parte da família Weege, qual a importância desta posição e momento em sua trajetória?
Ser CEO do Grupo Malwee é uma honra e uma grande responsabilidade. Tenho uma enorme admiração pela trajetória da companhia, seu propósito e posicionamento. A experiência tem sido muito interessante, aprendendo muito sobre nosso mercado de atuação, nosso modelo de operação e junto com o time trabalhando na construção das evoluções necessárias, oportunidades, conquistas e resultados.
Para a Malwee, o compromisso da empresa com a diversidade, uma vez que as mulheres representam mais de 64% da equipe e 51,69% nos cargos de liderança.
E assim seguimos nossa jornada, construindo a reputação do Grupo Malwee como uma referência a ser seguida pelo setor, com destaque para a sustentabilidade, a qualidade dos nossos produtos, as nossas inovações e o impacto positivo que geramos no mundo, por meio de relações duradouras. Fazendo o bem e fazendo bem-feito!
Antes de ser CEO, você foi conselheira de administração e membro do comitê de marca do Grupo Malwee. Como esse cargo preparou você para a posição de CEO?
A experiência como responsável pelo comitê de Marca e Produto e conselheira de administração desde 2021 aqui na Malwee foi fundamental para a minha formação enquanto líder e CEO do Grupo. Essa vivência no Conselho me permitiu compreender profundamente os desafios e as oportunidades do mercado e do negócio mais a distância, há 10.000 pés, e de forma estratégica. Chegando no executivo, há quase dois anos, todo este conhecimento e experiência do Conselho facilitaram e aceleraram a minha integração e onboarding. Posso afirmar que tenho me tornado uma pessoa e profissional cada vez mais conectada com meu propósito, realizada e feliz.
Você é estilista por formação, foi executiva da Renner por muitos anos e, também, professora universitária. Como os processos criativos ajudam no dia a dia como gestora?
O trabalho na minha vida é pura energia e paixão e a moda é o universo onde escolhi viver isso tudo de diversas formas como estilista, professora, visual merchandiser, executiva, mentora, conselheira e agora CEO.
A moda me abriu portas, me apresentou pessoas incríveis; a indústria, o varejo, a arte, o comportamento, o negócio, a sustentabilidade… Me desafiou e me ensinou sobre liderança, marketing, gestão, finanças, negociação… Acredito que trabalhar com aquilo que amamos nos abre inúmeras possibilidades e no meu caso tive a sorte de poder exercitar diferentes profissões ao longo da minha carreira e sempre seguir aprendendo… a curiosidade e o lifelong learning me instigam e me movem.
A criatividade, a determinação e a disciplina foram essenciais na minha vida e seguem comigo hoje, no dia a dia, na resolução dos desafios e nos temas estratégicos, na inovação constante. A minha vivência em ambientes criativos me ajuda a incentivar uma cultura colaborativa e aberta a novas ideias, e ao mesmo tempo, como CEO, garantir que insights criativos se transformem em estratégias eficazes e resultados concretos. Essa mentalidade é fundamental considerando que estamos vivendo um mercado em constante mudança.