Empresas da América Latina estão avançadas na divulgação ligada à natureza
Constatação é de estudo da EY que analisou a conformidade dos relatórios corporativos em relação às recomendações da TNFD.
Constatação é de estudo da EY que analisou a conformidade dos relatórios corporativos em relação às recomendações da TNFD. (Foto: Freepik)
A cobertura de divulgação da TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures) entre as empresas da América Latina é de 89%, o que representa um índice superior na comparação com Estados Unidos (66%) e Canadá (72%), de acordo com o estudo Nature Risk Barometer, elaborado pela EY. Essa métrica de cobertura de divulgação contempla as organizações que divulgaram informações relacionadas à natureza que estão associadas a uma ou mais das 14 divulgações recomendadas pela TNFD, uma iniciativa global que fornece orientações para criação de relatórios sobre o impacto (riscos e oportunidades) das organizações na natureza.
As recomendações da TNFD estão distribuídas em quatro pilares de divulgação: governança; estratégia; gestão de riscos e impactos; e métricas e metas. A estrutura é semelhante à da TCFD (Taskforce on Climate-Related Financial Disclosures), mas com três recomendações exclusivas. A primeira está voltada para a descrição das políticas e atividades de engajamento com relação aos povos indígenas, comunidades locais e outros stakeholders na avaliação de impactos, dependências e riscos e oportunidades relacionados à natureza. A segunda diz respeito à divulgação dos locais prioritários de ativos e atividades que são significativamente afetados ou interagem com a natureza. E a terceira é uma descrição dos processos para identificar dependências, impactos, riscos e oportunidades relacionados à natureza em toda a cadeia de valor.
“A perda da biodiversidade prejudica os sistemas naturais dos quais as empresas e a sociedade dependem para recursos, regulação climática e resiliência”, destaca Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina. “Ao integrar considerações relacionadas à natureza no planejamento estratégico de negócios e operações, as empresas desempenham papel vital na proteção da estabilidade econômica e no apoio a metas do Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês) para deter e restaurar a perda da natureza até 2030”, completa.
O Fórum Econômico Mundial demonstrou que US$ 44 trilhões são moderadamente ou altamente dependentes do sistema de serviços ecossistêmicos e da natureza. “Isso evidencia o quanto o desempenho da economia está ligado à natureza. Esse estudo indica inclusive que a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema serão o terceiro maior risco global na próxima década, atrás de eventos climáticos extremos e mudanças críticas nos sistemas da Terra”, observa Ricardo.
Alinhamento precisa melhorar, mas não apenas o da América Latina
Mesmo que a cobertura esteja alta entre as empresas da América Latina, ainda há muito espaço para melhorar na conformidade com a TNFD. Isso porque o estudo também mensurou o chamado alinhamento, que representa uma análise qualitativa sobre as divulgações de cada empresa analisada. As organizações receberam uma classificação baseada na extensão em que suas divulgações se alinharam às recomendações da TNFD, usando um sistema de pontuação de zero a cinco. O zero significa que não há nenhuma evidência de alinhamento de divulgação. Já o cinco representa quem aparece como líder de mercado em termos de divulgação, abordando detalhadamente todos os componentes da recomendação.
O alinhamento geral das três amostras pesquisadas (EUA, Canadá e América Latina) foi de 19%, dez pontos percentuais a menos do que o da América Latina, de 29%, que apresentou novamente o melhor desempenho individual. “Enquanto a cobertura mostra que a empresa forneceu informações para uma ou mais das 14 recomendações da TNFD, independentemente da qualidade desse reporte, o alinhamento avalia de fato a relevância dessas divulgações, considerando o nível de detalhamento e o quão bem os reportes atendem às recomendações”, explica Leonardo Dutra, sócio-líder de serviços de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY Brasil. “Essa lacuna entre a cobertura e o alinhamento ressalta que as empresas precisam ir além, incorporando realmente as considerações relacionadas à natureza na tomada de decisão e nos relatórios”, finaliza.