Negacionismo científico influencia no aumento de doenças evitáveis por vacina no mundo
A vacinação é essencial e representa, além de atitude individual, um ato coletivo, segundo o professor Gonzalo Vecina Neto.
A vacinação é essencial e representa, além de atitude individual, um ato coletivo. (Foto: Freepik)
Nas últimas décadas, o avanço da medicina levou a erradicação de algumas doenças mundiais. A criação de vacinas e tratamentos eficazes permitiram esse avanço na saúde humanitária. Entretanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de doenças evitáveis por vacina, como difteria, sarampo e meningite, tem aumentado recentemente.
As causas desse crescimento são diversas e variam de acordo com a localidade que estamos tratando. Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, comenta dos motivos dessa subida. “Em regiões mais pobres, na África e no Sudeste Asiático, a explicação desse crescimento é a escassez de vacinas, falta de dinheiro para comprar essa forma de proteção. Entretanto, nas outras regiões, desenvolvidas ou de renda média, as razões são muito mais complexas, de modelo de vacinação a negacionismo científico.”
Vacinação
Segundo o docente, atualmente existem duas formas de vacinação adotadas pelas nações: a puericultura e o modelo campanhista. No primeiro caso, há o acompanhamento total da criança durante a sua infância e crescimento, analisando todo o quadro de saúde do indivíduo. Por outro lado, as campanhas vacinais, como o próprio nome diz, visam apenas à vacinação da população. Mesmo os dois modelos sendo eficazes, a puericultura é a mais indicada e eficiente a longo prazo.
O Brasil adota, desde 1975, o modelo campanhista de vacinação. Até 2015, as campanhas atingiram cerca de 95% de cobertura vacinal da população. Contudo, após a pandemia, casos de enfermidades como a meningite voltaram a subir. Segundo a OMS, foram registrados, em 2024, 26 mil novos casos da doença e aproximadamente 1.400 mortes em 24 países.
Para o professor, a vacinação é, além de um ato individual, uma atitude coletiva. “Quando você protege mais de 70% da população, por alguma razão, o agente infeccioso não consegue encontrar suscetíveis. Em uma população de 100 habitantes, por exemplo, em que 70 estão vacinados, a chance do agente contagioso encontrar os outros 30 é muito pequena. É um evento estatístico. Então, a proteção da sociedade protege a todos. Mesmo aqueles que, por alguma razão, não tiveram condição de ter acesso à vacina. O processo de imunização de populações é um processo coletivo dentro da saúde pública”, completa.
Negacionismo
Além dos modelos de imunização, a crescente onda negacionista na ciência e a circulação de fake news têm contribuído diretamente para o problema. “Uma mentira bem contada e repetida muitas vezes se transforma em uma verdade. E, dependendo do tipo de mentira que você estiver tomando, existe risco de vida. Quando tratamos de inverdades a respeito da vacina, isso pode colocar a vida de pessoas em risco. Nós estamos vivendo em um mundo em transformação, com alta carga de informações compartilhadas. É um mundo onde nós estamos tendo acesso a uma forma muito violenta à informação sem regras”, defende Vecina Neto.
De acordo com a organização, 138 países reportaram casos de sarampo nos últimos 12 meses, sendo que, em 61, foram registrados grandes surtos. A doença é tida como controlada em grande parte dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Porém, os dados apresentados demonstram o retrocesso recente nos avanços da medicina. Além da queda da cobertura vacinal, conflitos novos e as mudanças climáticas são agravantes do problema. Dessa maneira, as vacinas são essenciais para mudar o cenário atual.