Índia se firma como fornecedora estratégica da indústria farmacêutica e química brasileira
A Índia é referência global na produção de medicamentos genéricos e vacinas. O país responde por cerca de 20% das exportações mundiais de genéricos e desempenha um papel crucial no fornecimento de vacinas para países em desenvolvimento e organizações internacionais.
Luciana Santos, ministra da Ciência e Tecnologia. (Foto: Divulgação)
Em meio ao redesenho das cadeias globais de suprimento, a Índia tem se consolidado como um dos principais parceiros da indústria farmacêutica e química do Brasil. Reconhecida como a “farmácia do mundo”, a Índia é hoje o segundo maior fornecedor de Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAs) para o mercado brasileiro, ficando atrás apenas da China. Estes insumos são essenciais para a produção de medicamentos genéricos, antibióticos, oncológicos e vacinas.
A Índia é referência global na produção de medicamentos genéricos e vacinas. O país responde por cerca de 20% das exportações mundiais de genéricos e desempenha um papel crucial no fornecimento de vacinas para países em desenvolvimento e organizações internacionais. De acordo com dados do ComexStat, as exportações indianas de produtos farmacêuticos para o Brasil já ultrapassaram a marca de US$ 750 milhões, com crescimento médio de 11% ao ano.
Setor em evolução
O mercado farmacêutico indiano movimentou mais de US$ 22,5 bilhões em exportações no ano fiscal de 2024 e mais de US$ 25 bilhões da receita total do setor já provêm das vendas externas. As projeções são ambiciosas: o setor deve atingir US$ 130 bilhões até 2030 e ultrapassar US$ 450 bilhões até 2047, consolidando-se como um dos grandes motores da economia indiana e uma plataforma essencial para a saúde global.
Com um ecossistema industrial sólido, a Índia abriga mais de 3000 empresas farmacêuticas e cerca de 10500 unidades de fabricação, muitas delas com certificações internacionais como FDA e EMA. A parceria entre Fiocruz e o Instituto Serum da Índia durante a pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas. O fornecimento de IFAs para a produção da vacina de Oxford/AstraZeneca no Brasil evidenciou o papel estratégico da Índia na cadeia global de saúde e abriu portas para novos acordos estruturantes.
Protagonismo estrutural
Além da indústria farmacêutica, a química fina indiana também abastece o Brasil com reagentes, solventes, excipientes e especialidades químicas utilizadas na formulação de medicamentos e cosméticos. Empresas como Jubilant Life Sciences e Laurus Labs exportam insumos diretamente para fabricantes locais.
Segundo a Abiquim, as importações brasileiras de produtos químicos da Índia superaram US$ 2,3 bilhões em 2023, com destaque para IFAs, químicos orgânicos e intermediários farmacêuticos. Esse comércio é impulsionado por acordos de longo prazo e pela confiabilidade regulatória da Índia.
Oportunidade para o Brasil
A forte presença indiana vem sendo vista por autoridades e empresas brasileiras como uma chance de fortalecer a autonomia sanitária nacional, sem abrir mão da competitividade global. O Programa Nacional de Redução da Dependência de IFAs, lançado pelo governo brasileiro, inclui a Índia como um dos principais parceiros tecnológicos e industriais.
A relação comercial entre Brasil e Índia no setor farmacêutico e químico tende a se intensificar. O Itamaraty e o Ministério da Saúde discutem novos mecanismos de cooperação, incluindo facilitação de registro de medicamentos, harmonização regulatória e promoção de investimentos industriais cruzados.
Dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 90% dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) utilizados no Brasil atualmente para a produção de medicamentos são importados. Além disso, apenas 50% dos equipamentos médicos são produzidos nacionalmente. A estimativa de déficit é de R$ 20 bilhões. “Não podemos ter a realidade que temos hoje: um déficit na balança comercial de R$ 20 bilhões que significa o segundo déficit da balança comercial. Assim, já investimos R$ 2 bilhões no complexo industrial da saúde, seja na área de fármacos, seja na área de soluções e equipamentos”, avalia a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos.