Chanceler alemão evita embate com Trump na Casa Branca, mas pede pressão sobre a Rússia

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, conseguiu se esquivar de embates durante um encontro com Donald Trump na Casa Branca nesta quinta-feira, 5. As últimas visitas de líderes ao republicano no Salão Oval se mostraram uma emboscada e terminaram em constrangimentos.

Merz foi cuidadoso nas palavras quando foi questionado por repórteres sobre os temas ligados à guerra na Ucrânia. O conflito, juntamente com as despesas militares, prometiam ser os focos de divergências entre os dois líderes. O fato de Trump ter divagado sobre os mais diferentes assunto, como tarifas, proibições de entradas, Joe Biden e Elon Musk, pode ter contribuído para um cenário menos agressivo ao alemão.

Apesar da disposição de Trump para relativizar a agressão russa, o chanceler enfatizou que seu país está inteiramente ao lado da Ucrânia. "Estamos buscando mais pressão sobre a Rússia" para acabar com a guerra na Ucrânia, disse. Até agora, Trump tem sido relutante em pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, apesar de Trump dizer: "Quero ver o fim das matanças".

Trump chamou a guerra de "banho de sangue", mas comparou a mediação do conflito a uma tentativa de separar crianças brigando no parque: "talvez elas tenham que continuar lutando". "Você vê isso no hóquei, você vê isso nos esportes", disse Trump. "Deixe-os ir por alguns segundos". Mas reconheceu que "provavelmente não será bonito".

Merz foi questionado se concordava com a comparação e se esquivou dizendo que ambos os líderes concordavam que a guerra tinha de chegar ao fim. Ele iniciou a coletiva de imprensa tecendo elogios a Trump, dizendo que o americano era a pessoa ideal para liderar esta situação.

Uma pequena tensão surgiu quando Merz respondeu à pergunta de um repórter em alemão. Trump escutou incomodado e, ao final, perguntou se o chanceler "falava alemão tão bem quanto falava inglês". Merz riu e logo o assuntou mudou.

O alemão foi a Washington na esperança de persuadir Trump a desempenhar um papel mais ativo na defesa da Ucrânia, empregando o poder incomparável dos EUA na tarefa de forçar a Rússia a encerrar a invasão de seu vizinho. Mas recebeu uma resposta bem diferente. Trump basicamente desistiu, afirmando que não havia nada que os Estados Unidos pudessem fazer agora para pôr fim à guerra.

Trump prometeu repetidamente durante a campanha presidencial que poderia fazer a paz entre as nações em guerra em 24 horas, mas agora ele diz que estava sendo sarcástico.

Merz lembrou ao presidente que o aniversário da operação do Dia D é na sexta-feira, 6 de junho, "quando os americanos encerraram uma guerra na Europa". "E acho que isso está na sua mão, especificamente na nossa", acrescentou Merz.

Trump interrompeu com uma piada sobre os nazistas. "Aquele não foi um dia agradável para vocês", disse ele, referindo-se à derrota de Adolf Hitler pelos Estados Unidos. Merz respondeu que, "a longo prazo, Sr. Presidente, esta foi a libertação do meu país da ditadura nazista".

"Sabemos o que devemos a vocês", acrescentou, "mas é por isso que estou dizendo que a América está, mais uma vez, em uma posição muito forte para fazer algo sobre esta guerra e acabar com ela".

Trump não assumiu compromissos. Em vez disso, gabou-se da economia dos EUA e dos números de recrutamento militar sob sua liderança.

Merz, que assumiu o cargo no início de maio, está disputando a liderança da Europa em questões de comércio internacional, segurança e a guerra na Ucrânia. Ele aspira ser uma força estabilizadora e tornar a Alemanha indispensável para o esforço da Europa de se manter independente.

Mas, primeiro, ele e seus assessores sabiam que ele teria que superar a aparição no Sala Oval. O presidente e seu governo demonstraram uma animosidade especial em relação à Alemanha, entre as nações europeias que Trump vê mais como concorrentes do que como aliadas.

Merz, um político de centro-direita e ex-advogado rico, esperava que ele e o presidente falassem a mesma língua. Ele passou grande parte do seu primeiro mês de trabalho ensaiando para o teste, ciente das reprimendas que outros líderes estrangeiros receberam no Oval, incluindo o presidente ucraniano Volodmir Zelenski e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.

Já de entrada a equipe alemã foi pega de surpresa. Na noite de quarta-feira, 4, as autoridades americanas transferiram a reunião no Salão Oval para o início da visita, antes de um almoço de trabalho. Autoridades alemãs esperavam que o almoço acontecesse primeiro, oferecendo aos líderes a chance de discutir quaisquer divergências em particular antes das câmeras serem ligadas.

A equipe de Merz sabia a importância do primeiro encontro entre os líderes. Seus assessores informaram os repórteres antes da visita que conversaram com assessores de outros líderes que fizeram a peregrinação a Washington para perguntar sobre suas experiências. O próprio Merz conversou com muitos desses líderes, incluindo uma ligação recente com Ramaphosa.

O líder alemão presenteou Trump com um quadro dourado, uma cópia emoldurada da certidão de nascimento do avô de Trump. Friedrich Trump imigrou da Alemanha para os Estados Unidos. A certidão de nascimento tinha uma moldura dourada, refletindo o tom favorito de Trump, que ele usa para ornamentar seu escritório na Casa Branca. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)