Tarifaço de Trump é extemporâneo e sem base técnica ou legal consistente

Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do LIDE Comércio Exterior, defende medidas rápidas e agenda positiva para reverter o atual cenário.

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Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do LIDE Comércio Exterior, analisa a tarifa imposta pelo governo norte-americano. (Foto: Rubens Nemitz Jr)

Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do LIDE Comércio Exterior, participou na última semana, em Curitiba, do seminário “Guerra Comercial: oportunidade ou desafio?”, promovido pelo LIDE Paraná. Durante a sua palestra, afirmou que a decisão do governo americano de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi uma medida “extemporânea e sem base técnica ou legal consistente”. Além disso, ele criticou a forma como o tarifaço foi anunciado, por meio das redes sociais, sem seguir os trâmites diplomáticos.

Giannetti destacou que, ao contrário do que afirmou o presidente Donald Trump, o Brasil não possui superávit comercial com os EUA, mas sim déficit. Por isso, defendeu uma aliança forte entre os setores público e privado brasileiros para uma tomada de ações rápidas e realização de uma agenda positiva que possam mitigar os impactos negativos do tarifaço.

Entre as medidas defendidas por ele, que é especialista em comércio exterior, estão a prorrogação dos prazos nos Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC) para exportadores afetados, a antecipação do pagamento de créditos acumulados de ICMS pelos Estados e a busca por novos mercados para produtos brasileiros, especialmente commodities, como café e suco de laranja, que têm poucos substitutos.

Ele ressaltou que para os produtos que exigem certificações, registros sanitários ou investimentos de longo prazo em marca, a substituição do mercado americano será mais difícil e lenta, reforçando a necessidade de atuação coordenada entre governo e setor privado.

Defendendo que a negociação com os Estados Unidos deve evitar retaliações, que podem custar ao Brasil até 4% do PIB em dois anos, Giannetti destacou a importância de buscar soluções baseadas em concessões recíprocas. Para isso, apontou o CEO Forum, criado para promover o diálogo bilateral entre líderes empresariais dos dois países, como o canal ideal para formular uma proposta concreta.

“A nossa sugestão, já apresentada ao governo brasileiro, é que convoque imediatamente o CEO Forum para uma reunião extraordinária e emergencial. A ideia é delegar ao fórum 15 dias para entregar uma proposta ampla, equilibrada e realista sobre o que pode ser oferecido ao governo americano em troca da redução das tarifas, seja em nível global, como fez a União Europeia”, explicou. Giannetti lembrou que 70% do suco de laranja consumido nos EUA são de origem brasileira e que as indústrias americanas que usam o produto como insumo estão contra o tarifaço e podem ajudar.

Ele destacou que os Estados Unidos têm muito interesse econômico nas chamadas terras raras, que são 17 elementos muito importantes para diversas cadeias produtivas de alta tecnologia, como a fabricação de baterias, turbinas e equipamentos eletrônicos de ponta. O Brasil possui a segunda maior reserva mundial desses elementos e pode usar isso de forma estratégica numa negociação. “Os EUA têm grande interesse em diversificar o fornecimento de terras raras para reduzir a dependência da China e o Brasil pode oferecer cooperação nesse setor como parte de um pacote equilibrado de concessões”, afirmou.

Giannetti alertou que uma postura reativa e a demora em apresentar alternativas podem agravar o quadro, provocando perda de mercados, redução no fluxo de investimentos e enfraquecimento da confiança de parceiros comerciais. Para ele, é fundamental que o país aproveite o momento para modernizar processos, investir em tecnologia e diversificar a pauta exportadora, reduzindo a vulnerabilidade diante de choques externos.

O seminário “Guerra Comercial: oportunidade ou desafio?”, promovido pelo LIDE Paraná, reuniu empresários, autoridades e especialistas para discutir riscos e oportunidades diante das atuais tensões comerciais globais.