InterCement fecha acordo com credores e Mover venderá as ações da Motiva para pagar o Bradesco

Em negociações acertadas nesta quinta-feira, 24, o grupo Mover e a cimenteira InterCement, ambos em recuperação judicial desde 4 de dezembro de 2024, chegaram a um acordo preliminar com seus credores. Pelo acerto, a InterCement passará a ser integralmente controlada pelos credores, e a Mover venderá seu bloco de ações na concessionária de infraestrutura Motiva (antiga CCR), de 14,86%, para quitar sua dívida com o Bradesco BBI.

Nas tratativas, conforme apurou o Estadão/Broadcast, após mais de meio ano de litígio judicial, a Mover e o grupo Bradesco chegaram a um entendimento para quitar uma dívida arrolada na recuperação judicial superior a R$ 3,1 bilhões com a venda das ações da Motiva. De acordo com pessoas a par do caso, as partes estão discutindo os termos que podem levar a Mover a ficar em seu caixa com R$ 500 milhões da venda.

No todo, a Mover espera sair da recuperação judicial com caixa em torno de R$ 1 bilhão, segundo informações de pessoas a par das negociações, para poder fazer frente a outros compromissos da holding, que atualmente tem como sua principal fonte de receita os dividendos pagos pela Motiva.

O Estadão/Broadcast apurou ainda que Itaúsa e Votorantim, sócios da Motiva, estão dispostos a exercer seu direito de preferência na venda e adquirir as ações que hoje são da Mover. Outro acionista do bloco de controle é a Soares Penido. A holding da família Camargo tem 10,33% dentro do acordo de acionistas e o restante livre para venda separada.

O acordo firmado com os credores foi fechado antes da assembleia-geral que estava marcada para esta quinta-feira, 24, a qual foi suspensa devido ao entendimento entre Mover, InterCement e os credores Bradesco, bondholders e o empresário argentino que adquiriu créditos do Itaú com a cimenteira semanas atrás. O acordo final será votado em 15 de agosto.

A recuperação judicial do grupo Mover - envolvendo a holding e sete empresas - arrolou R$ 14,2 bilhões em dívidas, a maior parte da InterCement (debêntures e senior notes). Pelos termos acertados, os litígios envolvendo a cimenteira, a Mover e seus credores devem ser todos suspensos.

Com a reorganização financeira e societária, a Mover ficam sem dois ativos relevantes em seu portfólio: a cimenteira e a participação societária na Motiva. Por outro lado, não carrega mais as contingências diversas, acima de R$ 8 bilhões, da InterCement. Fica com a incorporadora imobiliária HM, o estaleiro EAS, que está em recuperação judicial, fazendas e créditos a receber na área de construção pesada.

O Banco do Brasil, credor de R$ 1,8 bilhão em debêntures, conforme apuração do Estadão/Broadcast, vendeu esse crédito para o mesmo grupo que comprou o do Itaú (bondholders e o empresário argentino). Parte (R$ 800 milhões) tinha garantia de ações da cimenteira argentina Loma Negra, controlada pela InterCement, e a maior parte estava sem garantias.

O Itaú Unibanco havia vendido seus créditos antes aos detentores de títulos emitidos no exterior (40%) e para Marcos Mndlin e sua companhia Generación Argentina S.A., os outros 60%, de um total aproximado de R$ 2,5 bilhões. Mindlin já manifestou algumas vezes que tem interesse na compra da Loma Negra, cimenteira líder no mercado da Argentina. listada na Bolsa de Nova York

Saída do setor cimenteiro

Segundo comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a InterCement informou que nos termos do acordo a sua controladora Mover receberá um aporte de R$ 450 milhões da empresa e títulos "warrants" que podem render mais R$ 50 milhões se o valor patrimonial da cimenteira superar R$ 2 bilhões.

Em contrapartida, os credores da empresa assumem 100% do capital da cimenteira e devem implantar nova gestão e governança na companhia, que é hoje a terceira maior produtora de cimento no Brasil e líder na Argentina com a Loma Negra.

Com operações no Brasil e Argentina, a InterCement Participações, dona da ICB e Loma Negra, deve sair da recuperação judicial com dívida em torno de R$ 2 bilhões, além das bilionárias contingências fiscais, cíveis e multas. A empresa encerrou o primeiro trimestre do ano com caixa de R$ 1,86 bilhão, fruto de vendas de ativos no exterior em 2023 e da geração de caixa das operações.

Debenturistas com garantias de papéis da Loma Negra e bondholders receberão um pacote que envolve dinheiro, novas notas garantidas da InterCement Brasil (ICB), ações da InterCement e papéis atrelados a dividendos da Loma Negra.

O acordo inclui, ainda, processo de venda da participação atual da InterCement, 52%, no capital da companhia argentina, a suspensão de litígios e quitação recíproca após a conclusão das transações, segundo o comunicado.

Paralelamente, diz o comunicado, a Mover e suas controladas Sucea participações e Sincro Participações, que detêm as ações da Motiva (CCR), firmaram um pré-acordo com o grupo Bradesco, incluindo o Bradesco BBI, sobre crédito da instituição financeira com a holding da família Camargo.

O acordo está sujeito a um consenso entre as partes sobre documentação definitiva, aprovações societárias, análise tributária satisfatória e a implementação da operação que proteja a liquidez do Grupo Mover e os retornos esperados dos credores, centre outros termos.

Todas as assembleias de credores ficaram suspensas até 15 de agosto para refinamento do plano de reestruturação consensual das empresas e seus credores.

Nas negociações, o Grupo Mover foi assessorado pelo escritório E. Munhoz Advogados. Já os bondholders contaram com assessoria financeira da Moelis &Co e jurídica da Padis Mattar e Cleary Gottlieb Steen & Hamilton. (COM ANA PAULA MACHADO)